Sentidos da arqueologia #Anarqueológicas #6
Notícias de itinerários entre imagens, sexta edição: 4 de julho de 2020.
Olá, como vai?
Espero que você esteja bem e que alguma serenidade seja possível em meio ao peso dos dias atuais.
Depois de um intervalo maior, escrevo novamente com notícias das nossas derivas no Arqueologia do sensível. Aliás, agora está mais fácil nos encontrar no YouTube: depois de ultrapassarmos 100 pessoas inscritas, o endereço do canal do grupo se tornou youtube.com/arqueologiadosensivel. Em breve divulgaremos também nosso site, que se tornará o espaço de divulgação e, principalmente, de registro e arquivamento de tudo o que fazemos: reuniões, eventos, projetos de pesquisa, publicações etc.
#Anarqueológicas, o que houve, o que vem
Os últimos eventos do projeto #Anarqueológicas foram incríveis (e se você for uma das pessoas que está começando a receber nossa newsletter hoje, agradeço muito pelo interesse em se juntar a nós dessa maneira e espero que a partilha dos itinerários ressoe de modos frutíferos). No dia 17/06, conversamos com Fábio Rodrigues Filho a partir de seu filme, Tudo que é apertado rasga (2019), discutindo muito sobre como fazer cinema com base em material de arquivo, de modo geral, e o que está em jogo no arquivo das performances negras no cinema brasileiro, em especial. No dia 25/06, ouvimos a palestra de Fernanda Sousa sobre o romance Amada, de Toni Morrison, que se estendeu em uma prolongada e linda conversa sobre a experiência da literatura e os sentidos do amor.
Minha impressão é das melhores sobre todas as diversas experiências que fizemos no projeto #Anarqueológicas desde maio até agora. Dois meses intensos, sobre os quais ainda quero refletir e escrever alguma coisa, porque foram meses de muito aprendizado pra mim, e imagino que isso valha pra muita gente também. O que você achou? Seria ótimo receber seus comentários sobre o que acompanhou, sobre a proposta geral do projeto e sobre o que mais quiser falar. Se quiser, é só me responder aqui!
É bom lembrar que o primeiro ciclo do #Anarqueológicas ainda não acabou. Você sabia que a obra de Glauber Rocha inclui um filme inacabado chamado Cruz na Praça? Como é possível dizer algo sobre um filme desaparecido? O que isso pode causar para o modo como entendemos a figura de Glauber na história do cinema? No dia 8 de julho, é sobre isso e muito mais que a gente vai conversar na palestra Arkeologia: fazer correr os riscos na experiência com arquivos, com Fabricio Fernandes. Ele é escritor, roteirista, cineclubista, pesquisador em arqueologia da imagem e da palavra, mestre em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e vai abordar os sentidos desse processo de arkeologia, com a re-escrita da palavra à maneira de Glauber. As inscrições estão abertas!
A arqueologia do sensível como deriva metodológica
A palestra de Fabricio tem muito a ver com um interesse mais geral em conversar no grupo e além dele sobre o que pode ser uma arqueologia do sensível. Quando falamos em arqueologia, **nas humanidades, é comum lembrarmos de Michel Foucault e de sua Arqueologia do saber, assim como de seu estudo das condições de possibilidade das ciências humanas, em As palavras e as coisas. Quem estuda imagem e mídia pode já ter entrado em contato com a Arqueologia da mídia, de Siegfried Zielinski, e com figuras como Friedrich Kittler. No campo dos estudos de cinema, o livro Cinema como arqueologia das mídias, de Thomas Elsaesser, é outra referência importante para entender os sentidos do termo.
Até aqui, nosso uso da noção de arqueologia está amplamente ligado às leituras de Georges Didi-Huberman que já fizemos (com destaque para livros como Cascas e Atlas ou O gaio saber inquieto, por exemplo), e o conceito de sensível articula referências às noções de "vida sensível", de Emanuele Coccia, e "partilha do sensível, de Jacques Racière. Um dos objetivos do grupo é justamente o de estudar e discutir os sentidos da arqueologia do sensível como deriva metodológica, e todas as leituras acima podem ser relevantes para isso (ainda quero desdobrá-las nesse sentido).
Mas uma coisa me parece muito importante, de saída: não se trata de um método, se entendermos como método a definição de um conjunto de etapas que delimita um caminho em direção ao conhecimento, por meio da aplicação de princípios pré-definidos. Em vez disso, a arqueologia do sensível está mais próxima do que prefiro descrever como uma deriva metodológica: não um caminho linear, reto ou direto, mediado por mecanismos de controle discursivo (como todo método científico tende a ser), mas um passeio aberto, com múltiplos itinerários possíveis, que se definem pelas bifurcações que abrem, pelas encruzilhadas que configuram, introduzindo um movimento de erro e de errância ali onde parecia haver apenas a pureza de um destino.
Ainda quero detalhar o que penso sobre tudo isso, sobre método e deriva, sobre conhecimento, abertura, erro e errância, ampliando as linhas de fuga das conversas. Além da palestra de Fabricio, em que se trata de fazer da arkeologia o fundamento de um itinerário homoerrático diante do filme perdido de Glauber, em agosto vamos ter outra oportunidade de conversar sobre arqueologia e cinema. Em uma data ainda a confirmar, receberemos em mais uma atividade do projeto #Anarqueológicas a artista Caroline Valansi, que tem justamente uma obra de 2013 intitulada Arqueologia do sensível. Caroline já aceitou nosso convite para uma conversa em agosto, e se você fizer uma visita ao site dela, já pode ir conhecendo o que ela tem feito, inclusive seus trabalhos que se aproximam do cinema, como a recente exposição Cine Desejo (interrompida pela pandemia).
Tudo isso indica algumas linhas de continuidade entre o que vem por aí e o que fizemos neste semestre atípico de 2020.1, em meio à suspensão prolongada de atividade presenciais na UFBA, que conduziu à realização das nossas reuniões de forma remota. Foi nesse contexto que iniciamos estas derivas anarqueológicas e todo o projeto de que fazem parte, que deve continuar e se transformar à medida em que seguimos em direção a 2021, provavelmente ainda sem a retomada de atividades presenciais.
Vamos falar um pouco dos horizontes para o segundo semestre de 2020 na última reunião regular do grupo, que acontece no dia 6 de julho, às 17h, que incluirá uma conversa sobre o filme Café com Canela e sobre o projeto de pesquisa de Jônatas Pereira, sobre representações do negro no cinema baiano contemporâneo. Depois dessa conversa, o assunto será o que faremos em 2020.2, então se você pensa em se juntar a nós, talvez seja um bom momento para começar, já contribuindo para definir os rumos dos itinerários a seguir. Como sempre, todas as nossas reuniões são abertas. Se quiser participar, é só dizer, pra que eu consiga garantir que o link chegue até você em tempo hábil.
Abraços, e obrigado pelo interesse!
Marcelo
As derivas anarqueológicas são registros periódicos de parte dos itinerários do que se pode denominar uma arqueologia do sensível. Quer saber mais sobre o grupo e sobre projeto #Anarqueológicas?
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